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Turquia e a nova lei de internet
A Turquia está prestes a se transformar em um buraco negro dentro do
mapa mundial da internet, temem os internautas, depois que foi
aprovada, na noite desta quarta-feira, uma nova lei de controle de
conteúdos que não desmerece o "Big Brother" imaginado por George Orwell.
Isto não era o que se esperava o ativista Gürkan Özturan quando, no
final de 2010, o governo turco, o mesmo que agora aprovou a lei que põe o
país no mesmo patamar de China ou Irã, levantou a proibição do YouTube e
renunciou uma lei de controle de conteúdos após amplos protestos.
"Pensamos que com os protestos pacíficos tínhamos conseguido ampliar
as liberdades", lembra Özturan em conversa com à Agência Efe, "mas agora
será muito pior".
Agora, já não será preciso uma ordem judicial para bloquear uma
página na internet, como antes: "qualquer alto funcionário pode eliminar
em quatro horas qualquer conteúdo que lhe agrade. Basta avisar à
Direção de Telecomunicações (TIB)", diz o ativista, membro do Partido
Pirata da Turquia. As técnicas utilizadas para interceptar os conteúdos
indesejáveis para o governo também sofreram alteração.
A nova lei de controle foi aprovada ontem em forma de 16 artigos
inseridos em um pacote legal de 125 pontos, e foi apresentada como
medida para "proteger à família, às crianças e à juventude de elementos
na internet que incitam à dependência às drogas, o abuso sexual e o
suicídio", resume o jornal "Hürriyet".
Mas a oposição acredita que o que realmente preocupa o Executivo é
que internet se transformou em uma plataforma para divulgar gravações
policiais de altos funcionários relacionadas com acusações de corrupção
que já forçaram a demissão de quatro ministros em dezembro.
Isso é o que acredita Aykut Erdogdu, deputado do opositor Partido
Republicano do Povo, CHP, afirma que a nova lei pretende censurar a
informação incômoda.
"O primeiro-ministro nunca se preocupou com a privacidade, até agora,
quando atingiu seus ministros, seus filhos e a ele próprio em um caso
de corrupção", assegurou Erdogdu.
Quem respalda essa visão é o deputado do partido no governo, Mustafa
Elitas que afirma que a lei era necessária para evitar que uma rede
infiltrada nas instituições estatais começasse a interceptar gravações
de escutas telefônicas.
Um exemplo desta atitude aconteceu na semana passada, quando a TIB
exigiu que um deputado da oposição, Umut Oran, apagasse do seu site
pessoal uma pergunta parlamentar centrada nas acusações de corrupção
contra o Executivo.
O aviso, retirado pela TIB e declarado como "erro administrativo"
após ser publicado na imprensa, chamou atenção porque a mesma pergunta
constava no site oficial do Parlamento.
Não é apenas a censura que preocupa, já que "o governo está iniciando
uma vigilância digital em massa com esta lei, que permite manter muitos
dados pessoais de navegação durante muito tempo", diz o professor Erkan
Saka.
"Os provedores de internet serão obrigados a manter os dados durante
dois anos. A internet será mais lenta e mais cara, mas, acima de tudo,
as pessoas começarão a aplicar a autocensura. O governo quer instaurar o
império do medo", denúncia o ativista Özturan.
O jornal online "Bianet" informa que a lei fortalece um centralismo
autoritário, já que o diretor da TIB será nomeado pelos serviços
secretos turcos, MIT, por sua vez submetidos unicamente ao controle do
primeiro-ministro.
O presidente, Abdullah Gül, ainda tem que assinar a lei para que
entre em vigor. Contudo, ainda que recentemente ele tenha ressaltado sua
postura "liberal" em assuntos de internet, analistas turcos acreditam
que ele não irá vetar.
Matéria original: Terra Tecnologia

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